Olá, cabecinhas maquiavélicas
Selecionei um conto um pouquinho maior para discutirmos "O Horla", são apenas 22 laudas (páginas), que vocês deverão ler e se preparar para as atividades.
Buuuuuuuuu
O LINK PARA O CONTO:
http://www.amatra3.com.br/uploaded_files/O%20Horla%5B1%5D.pdf
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Lembro que para o primeiro dia de aula desse ano, selecionei essa crônica para iniciar nossas atividades: a arte de ver. Relacionamos essa discussão aos textos, discutimos sobre tópico frasal e fizemos a compreensão do texto. Nesse dia, combinamos que iríamos treinar o nosso olhar e a nossa leitura para estratégias que nos permitissem ver, e, de certa forma, ler com olhos maduros. E aqui estamos nós, lendo tantos textos, discutindo sobre eles. Tenho certeza que esse é uma das formas de despertar nossos olhares: a prática de leitura. Obrigada por compartilharem esse espaço comigo, já são mais de 2000 acessos desde o começo do ano!
Esta é uma das crônicas mais famosas do grande escritor mineiro Fernando Sabino. Extraída do livro de mesmo nome, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 65.
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
-- É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?
-- Sei dizer não senhor: não tomo café.
-- Você é dono do café, não sabe dizer?
-- Ninguém tem reclamado dele não senhor.
-- Então me dá café com leite, pão e manteiga.
-- Café com leite só se for sem leite.
-- Não tem leite?
-- Hoje, não senhor.
-- Por que hoje não?
-- Porque hoje o leiteiro não veio.
-- Ontem ele veio?
-- Ontem não.
-- Quando é que ele vem?
-- Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes não vem. Só que no dia que devia vir em geral não vem.
-- Mas ali fora está escrito "Leiteria"!
-- Ah, isso está, sim senhor.
-- Quando é que tem leite?
-- Quando o leiteiro vem.
-- Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?
-- O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?
-- Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que vai indo a política aqui na sua cidade?
-- Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.
-- E há quanto tempo o senhor mora aqui?
-- Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.
-- Já dava para saber como vai indo a situação, não acha?
-- Ah, o senhor fala da situação? Dizem que vai bem.
-- Para que Partido?
-- Para todos os Partidos, parece.
-- Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.
-- Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida...
-- E o Prefeito?
-- Que é que tem o Prefeito?
-- Que tal o Prefeito daqui?
-- O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.
-- Que é que falam dele?
-- Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.
-- Você, certamente, já tem candidato.
-- Quem, eu? Estou esperando as plataformas.
-- Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que história é essa?
-- Aonde, ali? Uê, gente: penduraram isso aí...
Texto extraído do livro "A Mulher do Vizinho", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1962, pág. 144.
segunda-feira, 28 de maio de 2012
domingo, 20 de maio de 2012
Alegoria e interpretação de textos literários
Olá, pessoal.
Amanhã teremos VI e nela faremos a leitura de um conto, como combinado. Volta e meia nos deparamos com dificuldades de leitura em sala de aula, e já falamos sobre o caráter não literal dos textos. Ou seja, não lemos apenas o que está explícito, vamos além do meramente escrito para a leitura de mundo, para a leitura do contexto e das intencionalidades do autor.
Assim, já discutimos sobre alegoria, quando falamos do conto O Cachorro canibal. Não vou cobrar esse conceito na prova, mas ele ajuda a entender o espanto, o impacto, as figuras construídas no enredo. Por isso, sugiro que você leiam sobre alegoria, será bastante útil. Tentei encontrar o conceito mais simplificado.
Abraços
Uma alegoria (do grego αλλος, allos, "outro", e αγορευειν, agoreuein, "falar em público") é uma figura de linguagem, mais especificamente de uso retórico, que produz a virtualização do significado, ou seja, sua expressão transmite um ou mais sentidos que o da simples compreensão ao literal. Diz b para significar a. Uma alegoria não precisa ser expressa no texto escrito: pode dirigir-se aos olhos e, com freqüência, encontra-se na pintura, escultura ou noutras formas de linguagem. Embora opere de maneira semelhante a outras figuras retóricas, a alegoria vai além da simples comparação da metáfora. A fábula e a parábola são exemplos genéricos (isto é, de gêneros textuais) de aplicação da alegoria, às vezes acompanhados de uma moral que deixa claro a relação entre o sentido literal e o sentido figurado.
João Adolfo Hansen estudou a alegoria e publicou seu estudo em Alegoria: construção e interpretação da metáfora, distinguindo a alegoria greco-romana (de natureza essencialmente linguística, não obstante o anacronismo) da alegoria cristão, também chamada de hexegese religiosa (na qual eventos, personagens e fatos históricos passam também a ser interpretados alegoricamente). Northrop Fryediscutiu o espectro da alegoria desde o que ele designou de "alegoria ingênua" da The Faerie Queene de Edmund Spenser as alegorias mais privadas da literatura de paradoxos moderna. Os personagens numa alegoria "ingênua" não são inteiramente tridimensionais, para cada aspecto de suas personalidades individuais e eventos que se abatem sobre eles personificam alguma qualidade moral ou outra abstração. A alegoria foi selecionada primeiro: os detalhes meramente a preenchem. Já que histórias expressivas são sempre aplicáveis a questões maiores, as alegorias podem ser lidas em muitas dessas histórias, algumas vezes distorcendo o significado explícito expresso pelo autor.
A alegoria tem sido uma forma favorita na literatura de praticamente todas as nações. As escrituras dos hebreus apresentam instâncias freqüentes dela, uma das mais belas sendo a comparação da história de Israel ao crescimento de uma vinha no Salmo 80. Na tradição rabínica, leituras alegóricas tem sido aplicadas em todos os textos, uma tradição que foi herdada pelos cristãos, para os quais as semelhanças alegóricas são a base da exegese.
Na literatura clássica duas das alegorias mais conhecidas são o mito da caverna na República de Platão (Livro VII) e a história do estômago e seus membros no discurso de Menenius Agrippa (Tito Lívio ii. 32); e várias ocorrem nas Metamorfoses de Ovídio.
A complicada arte de ver - Por Rubem Alves
Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria!
Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.
De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.
Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica.
De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que vejo me causa espanto.”
Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta… Os poetas ensinam a ver”.
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.
William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.
Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.
William Blake sabia disso e afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado.
Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
Adélia Prado disse: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”.
Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.
“Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido.
Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: “Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram”.
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”.
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, “seus olhos se abriram”.
Vinicius de Moraes adota o mesmo mote em “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção”.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.
Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre.
Os olhos não gozam… Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras.
Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas”.
Por isso – porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver – eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos”…
Rubem Alves – Educador e escritor.
Texto originalmente publicado no caderno “Sinapse”, jornal “Folha de S. Paulo”, em 26/10/2004.
Texto originalmente publicado no caderno “Sinapse”, jornal “Folha de S. Paulo”, em 26/10/2004.
sábado, 19 de maio de 2012
Acentuação e escrita: o caso dos verbos
Uma dica de escrita básica sobre acentuação
Quando temos um verbo no infinitivo, e precisamos empregá-lo com um pronome átono (ou pronome pessoal do caso oblíquo), obtendo formas como usá-lo (verbo usar + pronome o), entretê-la (verbo entreter + pronome a), segui-lo (verbo seguir + pronome o) e pô-la (verbo pôr + pronome a) é preciso acentuar a palavra que vem antes do hífen?
A resposta é: quase sempre.
Verbos terminados em ar, er e or, sempre tornam-se formas acentuadas. A única exceção é para os verbos terminados em ir, que só levam acento quando o “i” final for um HIATO.
Por isso, encontrá-lo, recebê-la e instruí-la são acentuados, mas imprimi-lo fica sem acento.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
IMPORTANTE E FELIZ AVISO
Amanhã, 17/05, NÃO HAVERÁ PROVA, farei revisão. Aproveitem para estudar para as APs de amanhã das outras matérias.
Beijocas
Beijocas
RESENHA "A GUERRA DOS TRONOS", por Murilo Cardoso
A Guerra dos Tronos (Game of Thrones)
Uma batalha medieval, envolvente e fascinante como poucas!
A Guerra dos Tronos é o
primeiro livro da saga As Crônicas de Gelo e Fogo (A Song of Ice and Fire). A coleção, vencedora de diversos
prêmios como o Hugo Award, só foi trazida ao Brasil esse ano,
embora tenha sido lançada no exterior em 1996. O fator motivador para o
lançamento em nossas terras foi a transformação de A Guerra dos Tronos em um
série televisiva pela HBO.
O autor é George R. R. Martin, um
americano que vem sendo considerado o sucessor de Tolkien no quesito literatura
fantástica medieval. O livro As Crônicas de Gelo e Fogo é considerado sua maior
obra.
A trama se passa na terra de Westeros,
onde verões podem durar meses e invernos podem durar anos. Depois de um prólogo
bastante sombrio, somos apresentados à Casa Stark,
uma família de nobres do Norte. Lorde Eddard
Stark é o patriarca, casado com a senhora
Catelyn Stark,
e possui seis filhos: Robb,
Sansa, Bran,
Arya, Rickon
e o bastardo Jon Snow.
Aqui vem um dos aspectos mais interessantes do livro: ao invés de seguirmos
apenas um personagem através de uma sucessão linear de capítulos, temos uma
narrativa em terceira pessoa na qual o narrador acompanha diversos personagens.
As ações ocorrem simultaneamente em cada núcleo, que gira em torno de um
personagem, que é apresentada e narrada em um capítulo específico para ela. Assim,
não há um único protagonista, pois cada personagem é o protagonista em seu
núcleo. Mesmo assim, todos esses núcleos acabam brilhantemente dialogando.
Depois
das introduções e caracterizações dos personagens, somos levados à trama
principal: Lorde Eddard
é convidado por seu amigo, o Rei Robert da Casa Baratheon,
a servir como Mão do Rei – o principal conselheiro do Rei, que põem em prática
suas decisões – por conta da morte da Mão anterior, Jon Arryn. Nesse
ponto, o livro sinaliza para o leitor que mudanças drásticas acontecerão na
trama, de maneira que se torna quase impossível adiar a leitura dos próximos
capítulos - tamanha a expectativa quanto ao futuro dos Reinos.
De fato, a expectativa só aumenta, pois Eddard aceita o convite. O que leva Eddard,
“Ned” para os próximos, a aceitar o cargo é a carta que sua esposa, Catelyn,
recebe de sua irmã e viúva de Jon Arryn,
Lysa Arryn.
Assim, Lysa
discorre sobre a suspeita que tem da Rainha Cersei
Lannister, já que acredita que ela tenha
tramado a morte de seu marido. Esse é um dos fatores que dão
à trama um ar de suspense e mistério enquanto muitas batalhas entre os reinos
se desenrolarão. Essa mistura entre os tipos de romance, mistério, drama,
aventura, parecem ter sido a sacada genial do autor.
Com um enredo cheio de intrigas, reviravoltas, diferentes cenários e
personagens apaixonantes, a leitura do livro se torna hipnotizante.
terça-feira, 15 de maio de 2012
O homem nu - Parte final
Para quem ficou curioso e ainda não havia lido o final, aí está a última parte. Acho que as versões qu vocẽs fizeram ficaram mais criativas!
Beijos
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a
com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos,
para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu
andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada:
"Emergência: parar". Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com
cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o
elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! —
gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se
abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no
batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do
apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora —
disse ele, confuso. — Imagine que eu...
A velha, estarrecida, atirou os braços
para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a
radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria,
vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro,
minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu
finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se
precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a
calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse
ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.
Esta é uma das crônicas mais famosas do grande escritor mineiro Fernando Sabino. Extraída do livro de mesmo nome, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 65.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
O HOMEM NU
Oi Galera,
Leiam o fragmento do conto e deem continuidade à história, vamos exercitar a criatividade! Não vale ver o final original antes, hem? Bom trabalho e até segunda!
Ao acordar, disse para a mulher:
Leiam o fragmento do conto e deem continuidade à história, vamos exercitar a criatividade! Não vale ver o final original antes, hem? Bom trabalho e até segunda!
O Homem Nu
Fernando Sabino
Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares... Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo... Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido... Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
(agora é com você!)
terça-feira, 8 de maio de 2012
Conto-te o conto
O conto dessa semana é "O Cachorro canibal", de José J. Veiga. Façam a leitura e depois as observações e comentários no caderno (quem quiser, também pode comentar aqui mesmo). Espero que NÃO gostem, afinal, a Literatura tem que causar espanto!
=)
Acessem o link:
http://www.tirodeletra.com.br/Ocachorrocanibal-JoseJ.Veiga.htm
=)
Acessem o link:
http://www.tirodeletra.com.br/Ocachorrocanibal-JoseJ.Veiga.htm
Escrever... por Graciliano Ramos
"Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
sábado, 5 de maio de 2012
Conversinha mineira adaptada
Olha só, no vídeo os estereótipos ficam ainda mais visíveis (que coisa!)
Eis o conto!
Olá, caros estudantes!
Lembrem-se que há duas tarefas para segunda-feira (e para a105, terça). A primeira é a resolução dos exercícios que passei sexta, a respeito do texto Drama de Angélica; A segunda é a leitura e resumo/comentário da crônica Conversinha Mineira (logo abaixo). Como o texto é curto, sugiro que façam mais um comentário do que um resumo, observem os aspectos extratextuais e os implícitos do texto.
Bom final de semana, com bastante trabalho.
Beijos e até segunda.
Conversinha Mineira
Fernando Sabino
-- É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?
-- Sei dizer não senhor: não tomo café.
-- Você é dono do café, não sabe dizer?
-- Ninguém tem reclamado dele não senhor.
-- Então me dá café com leite, pão e manteiga.
-- Café com leite só se for sem leite.
-- Não tem leite?
-- Hoje, não senhor.
-- Por que hoje não?
-- Porque hoje o leiteiro não veio.
-- Ontem ele veio?
-- Ontem não.
-- Quando é que ele vem?
-- Tem dia certo não senhor. Às vezes vem, às vezes não vem. Só que no dia que devia vir em geral não vem.
-- Mas ali fora está escrito "Leiteria"!
-- Ah, isso está, sim senhor.
-- Quando é que tem leite?
-- Quando o leiteiro vem.
-- Tem ali um sujeito comendo coalhada. É feita de quê?
-- O quê: coalhada? Então o senhor não sabe de que é feita a coalhada?
-- Está bem, você ganhou. Me traz um café com leite sem leite. Escuta uma coisa: como é que vai indo a política aqui na sua cidade?
-- Sei dizer não senhor: eu não sou daqui.
-- E há quanto tempo o senhor mora aqui?
-- Vai para uns quinze anos. Isto é, não posso agarantir com certeza: um pouco mais, um pouco menos.
-- Já dava para saber como vai indo a situação, não acha?
-- Ah, o senhor fala da situação? Dizem que vai bem.
-- Para que Partido?
-- Para todos os Partidos, parece.
-- Eu gostaria de saber quem é que vai ganhar a eleição aqui.
-- Eu também gostaria. Uns falam que é um, outros falam que outro. Nessa mexida...
-- E o Prefeito?
-- Que é que tem o Prefeito?
-- Que tal o Prefeito daqui?
-- O Prefeito? É tal e qual eles falam dele.
-- Que é que falam dele?
-- Dele? Uai, esse trem todo que falam de tudo quanto é Prefeito.
-- Você, certamente, já tem candidato.
-- Quem, eu? Estou esperando as plataformas.
-- Mas tem ali o retrato de um candidato dependurado na parede, que história é essa?
-- Aonde, ali? Uê, gente: penduraram isso aí...
Texto extraído do livro "A Mulher do Vizinho", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1962, pág. 144.
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O conto dessa semana é "O Cachorro canibal", de José J. Veiga. Façam a leitura e depois as observações e comentários no caderno (q...
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Pessoal, Esse vídeo é um trecho de um documentário produzido pelo Museu da Língua portuguesa, em São Paulo. Ele explica de maneira didática...
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Regra Básica: Assim como na Física, a regra básica é: Os opostos se atraem e iguais se separam. Exemplo: micro-ondas (o + o = hífen)
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Aqui estão dois links para a adaptação de Os Miseráveis. ADAPTAÇÃO http://www.foztarquiniosantos.seed.pr.gov.br/redeescola/escolas/11/83...
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- L.
- A linha que nunca termina: a língua. Como discuti-la, sendo ela uma complexa teia de linhas infindáveis? Será possível à filosofia e às ciências compreenderem o maior e mais poderoso instrumento já criado pela humanidade? Na tentativa de participar desse diálogo, comente, diga, pense, problematize, entre em convulsão com a língua, não acredite nela, desconfie das palavras, atravessando a maré de discursos, encontre a sua própria margem!